Sempre na minha mente e no coração...

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Corcovado ou Cristo Redentor, lindo !!!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Meditar é aprender a ouvir....Rubem Alves

Meditar é aprender a ouvir

Rubem Alves

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir.  
Rubem Alves
Rubem Alves
Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.
 Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.
 É preciso também não ter filosofia nenhuma.
 Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.
 Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
 Parafraseio o Alberto Caeiro:
Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.
 É preciso também que haja silêncio dentro da alma.
 Daí a dificuldade:
 A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...
 Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
 Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...
 E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.
 Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.
 No fundo, somos os mais bonitos...
 Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes, ninguém fala.
 Há um longo, longo silêncio.
 Vejam a semelhança...
Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio...
Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas.
Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala.
 Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.
 Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos...
 Pensamentos que ele julgava essenciais.
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.
 Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades.
Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.
 Na verdade, não ouvi o que você falou.
 Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala.
 Falo como se você não tivesse falado.
 Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo.
 É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.
 Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.
 O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.
 E, assim vai a reunião.
Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.
E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
 Eu comecei a ouvir.
 Fernando Pessoa conhecia a experiência...
 E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.
 A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.
 No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.
 Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia...
 Que de tão linda nos faz chorar.
 Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.
 Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.
 Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.
 




Boa Noite!!!

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